quinta-feira, outubro 25, 2007

Não, nem penses,
Que dou algo mais ao que sentes,
Pois não nadarei mais nestes afluentes,
Nem me despojarei destes sentimentos quentes.

Não, foge daqui,
Vai-te embora e finge que eu parti,
Abandona a eira de afectos que construí,
Que eu, louco e fero, um funeral farei para ti.

Porque te aproxiamas? Sentes interesse agora,
Agora que, sem conserto nem aprumo,
À nova realidade me acostumo...

E esquecer não ajuda. Só faz lembrar
Um fogo frio, que a alma faz cortar
Para no fim, no chão o homem abandonar.



Capítulo encerrado.

5 comentários:

Dvd. disse...

Eu avisei-te m.v. ...
Been there, done that.

Cristiano Dias disse...

Mais uma vez um post teu me remete para outras paragens... outros pensamentos... desta vez fez-me recordar o meu poema favorito de sempre... onde a frieza, o desgosto e a determinação também vivem como amigos e companheiros.

Se me permites, tenho de postar o poema inteiro, é grande, mas igualmente intenso:

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas."

Adeus, Eugénio de Andrade

É de acentuar a conotação das palavras finais... "o passado é inútil como um trapo", em temos esta foi uma frase que tanto me disse, que acho adequada ao caso.

Bom, nao me estico mais. A grandeza está la, a determinação também... ao mesmo tempo: não desistas e esquece.

Keep going on...

Carolina disse...

Não perdeste o jeito my friend
=)**

Carolina disse...

Cala-te!
E agora deste numa de apagar posts?! =P

Dvd. disse...

denoto agora, que falhas-te o soneto por um verso...lolo