O Dependurado

Linha azul do metropolitano. Marquês de Pombal. Entrei na composição e sentei-me junto da porta a ler o jornal. Senti-me observado. Levanto a cabeça... era ela! A rapariga do 90 que vai para Entrecampos. Ia sentada na outra ponta da carruagem vazia. Linda. Linda como da outra vez. Possivelmente ainda mais linda. Trocámos olhares, daqueles olhares estranhos que se trocam com desconhecidos que conhecemos. Saímos os dois na Baixa-Chaido. Eu ía para para a Rua Augusta. Ela parou, hesitou, seguiu para o Chiado. Eu enchi-me de coragem e fui atrás dela. Nunca aqueles escadas rolantes me pareceram tão longas. Saí da catacumba. Procurei-a com olhos de lobo, e lá estava ela, a descer a Rua Garrett. Desço também atrás dela. Estou quase a apanhá-la, quando ela pára a ver uma montra. Paro ao lado dela. Ela entra na Pull and Bear. Eu não. Chego aos armazéns e viro à direita. Desço a Rua Nova Do Almada e venho para casa.

Uma pergunta atormenta-me até agora: Devia ter entrado?